Você quer ir mesmo para o ALTAR ?
Li esse relato no site da Dn. Cristiane e tive vontade de chorar .
Oi, dona Paula! Consegui uma conexão de internet para escrever bem rapidinho. A coisa aqui ficou preta mesmo… Para ganhar tempo, pois a net é limitada, escrevi durante 2 semanas o que vivi e aqui está:
Quinta-feira, 31 de março de 2011
São 13 horas. Nosso responsável, bem como outros pastores, não conseguiu sair de casa. Os conflitos são muitos, milhares de homens armados atiram em todas as direções, cada um com suas razões, mas todos com um único objetivo: matar!
Eu, André e alguns pastores conseguimos chegar na sede em meio a tiros. Tento me concentrar no meu trabalho no escritório, acreditando que os tiros vão parar, mas penso nos vários corpos que vimos pela rua…
De repente, um estrondo faz tremer tudo! Nos jogamos no chão e lá ficamos por meia hora até os barulhos diminuírem. O Bispo liga e diz que devemos ir para casa, fechamos tudo às presas e saímos. No caminho, temos de levantar os braços para indicar que não estamos armados. As ruas estão desertas e vemos mais corpos pelo caminho. Conseguimos chegar em casa.
Naquela noite ninguém dorme, pois os estrondos são perturbadores.
Sexta-feira, 01 de Abril de 2011
Amanhece e os tiros continuam. Somos 12 casais (pastores) aqui no condomínio, estamos bem, mas nossa preocupação é com os outros pastores, com os auxiliares, com o próprio Bispo, os obreiros, o povo enfim… O que estará acontecendo? Será que estão bem? Tentamos ligar uns para os outros, mas as linhas telefônicas foram cortadas.
Começamos a orar juntos pela manhã, ao meio-dia e às 17 horas, sem falar que já estávamos em propósito de oração de seis em seis horas e nos 21 dias do Jejum de Daniel.
A noite cai e os tiros não param. As bombas explodem insistentemente. O chão treme debaixo de nós.
Sábado, 02 de Abril de 2011
Dormir é quase impossível. Não vemos a hora de amanhecer para colocarmos a cabeça para fora! Temos pouca comida em casa e decidimos ir ao centro comprar algo. Não podemos ir de carro, pois os roubos a automóveis são praticamente certos. Vamos à pé, não vamos arriscar o carro da igreja. São 8 quilômetros, ida e volta. Os tiros e as bombas continuam. Agora mais distantes, mas continuam e não há teto sobre nossas cabeças, estamos na rua. Para nossa surpresa chegamos à rua principal e damos de cara com uma multidão, todos procurando o mesmo que nós: comida.
Que confusão! Poucos lugares abertos e centenas de pessoas buscam por comida. As filas não são respeitadas. Na padaria, muita briga por um pão, na feira, alguns poucos vendedores têm um estoque baixíssimo a preços absurdos. Não temos escolha, compramos o que podemos. O medo e o desespero são grandes por parte das pessoas que brigam e se agridem por um saco de arroz… Em meio a tudo isso temos que voltar rápido para casa, o toque de recolher é ao meio-dia.
O dia está acabando e os pastores combinam de ir à igreja amanhã pela manhã.
Domingo, 03 de Abril de 2011
Ainda bem cedo, o Bispo liga e diz que devemos ficar em casa. Ele havia tentado sair e fora obrigado a se deitar no chão com uma arma apontada em sua cabeça. Assim ficou por 20 minutos, mas pela mão de Deus, o deixaram voltar para casa, porém o advertiram a não ir à igreja…
Revoltados, nos colocamos a orar, pois é inadmissível ficarmos sem ir à igreja em um domingo! Em algumas de nossas igrejas houve reuniões com 10, 17, 30 pessoas corajosas que moram perto e arriscaram suas vidas para buscar a Deus…
À tarde nos reunimos em casa e buscamos a presença de Deus. Ele, claro, se fez presente entre nós. Posso ouvir a doce voz do Espirito Santo nos consolando, nos dando força, trazendo paz ao nosso interior e uma traquilidade que só Ele pode dar. Mesmo escutando os estrondos das bombas e sentido o chão tremer, nos sentíamos em paz e segurança!
A noite cai. Tentamos dormir.
Segunda-feira, 04 de Abril de 2011
Acordamos com a notícia de que uma de nossas igrejas fora destruída! Roubaram tudo… Restaram apenas os bancos. O povo e os obreiros telefonam preocupados conosco, mas a energia é cortada e os celulares começam a descarregar. A água também é pouca e temos que economizar gás e comida, pois não sabemos quando poderemos sair novamente.
São 16 horas e percebemos vários helicópteros sobrevoando áreas próximas ao nosso condomínio. Estão muito baixos… A Embaixada do Brasil nos telefona para saber o lugar exato em que estamos e nos dizem que devemos reunir nossos documentos em um lugar seguro para que, em caso de resgate, estejamos preparados… Mas no nosso coração só há uma frase: “Não vamos a lugar algum!”
São 16h45 e estamos prontos para a oração das 17 horas. Porém, observamos um movimento estranho: um helicóptero deixa cair algo do céu a apenas alguns quilômetros de nossa casa. Não temos ideia do que se trata até que ouvimos uma explosão! Tudo estremece, é uma bomba! Agora são várias, já que outros helicópteros começam a fazer o mesmo. Corremos todos para a cozinha, nos deitamos no chão e oramos. Sinto muito medo, como jamais senti em toda minha vida. Fecho os olhos e nada me resta senão confiar em Deus… Soubemos depois que tratava-se de um bombardeio enviado pela França, para atingir quatro pontos principais: a casa do presidente, a presidência e dois campos militares, um deles localizado a apenas cinco quilômetros de nossa casa… Nosso pensamento se fixa no nosso povo, nos obreiros, nos outros pastores e nos auxiliares que estão nas igrejas. E se uma dessas bombas cair em uma igreja? Como estará o Bispo? Não há como saber…
Não há mais luz, nem linha telefônica. A noite cai uma vez mais e os estrondos não dão trégua. Agora derrubaram um helicóptero! Onde terá caído? Muitas perguntas, nenhuma resposta… Assim passamos a noite: deitados no chão da cozinha, tentando nos proteger. Não é possível dormir com aquele barulho todo. Não há como saber se seremos atingidos. Não enxergamos um palmo diante do nariz, a escuridão é medonha. Tiros, bombas, não há o que possamos fazer…
Terça-feira, 05 de abril de 2011
Adormeci finalmente. O cansaço me venceu. Acordo e percebo que ainda ouço o explodir das bombas! Ficamos felizes ao vermos uns aos outros simplesmente pelo fato de estarmos todos vivos! Glorificamos a Deus e pedimos sem cansar pelos outros!
Passamos o dia em oração, não mais três vezes ao dia, nem tão pouco de seis em seis horas, mas intensificamos nosso clamor de hora em hora. Nós, mulheres, tentamos viver um dia normal, limpando a casa, cozinhando, lendo a Bíblia, enfim. O dia passa, mas nossa vontade de poder voltar à vida normal permanece.
Quarta-feira, 06 de Abril de 2011
Dormi esta noite, graças a Deus! Temos mais um desafio hoje: nosso gás vai acabar a qualquer momento, temos que sair para comprar carvão. Vamos ao centro e encontramos uma situação ainda pior que da vez anterior. Há menos coisas para se comprar e, por incrível que pareça, ainda mais caras! Os poucos supermercados que existem foram saqueados e estão, além de destruídos, completamente vazios.
O valor que normalmente gastamos na compra para o mês todo, hoje deu apenas para comprar comida para uma semana… Voltamos exaustos. Estamos exaustos de tanto andar, exaustos de ter que lutar para conseguir comprar pouquíssimas coisas a preços exorbitantes e mais exaustos ainda, e até mesmo revoltados, ao ver a situação da população.
Depois de três dias sem luz, a energia voltou, graças a Deus! Já estávamos temendo que nossa pouca comida se estragasse. Nem água gelada temos!
Aqui não podemos acompanhar as notícias, não só por estarmos no Jejum de Daniel, mas sim porque a única emissora de TV foi bombardeada! Mesmo com pouquíssimas informações, ouvimos que fora declarado um “cessar fogo”. Parece bom.
É meio-dia e estamos reunidos para orar quando o Bispo telefona dizendo que homens armados entraram em sua casa e roubaram várias coisas, além do carro da igreja. Damos graças a Deus, pois poucos minutos antes ele havia saído para tentar comprar algo e foi, nesse exato momento, que os homens entraram encontrando sua esposa e filha. Mesmo estando apenas as duas na casa, os saqueadores não fizeram nenhum mal à elas! Reconhecemos o milagre, mas nossa revolta aumentou ainda mais!
À tarde chega a notícia de que dois morteiros foram lançados na nossa sede, destruindo parte do muro e um carro da igreja que estava estacionado. Mais uma vez Deus enviou Seu livramento, pois havia mais de 30 pessoas lá, entre esposas, pastores, auxiliares e alguns obreiros, mas ninguém sofreu um arranhão! Deus tem ouvido nossas orações!
São 17 horas e vamos buscar a presença de Deus. Participamos de uma Santa Ceia improvisada, em casa mesmo. Foi uma bênção, algo tão forte que nos fez lembrar da igreja primitiva. O Espírito Santo está aqui nos fortalecendo, dando paz, mesmo em meio e esta guerra. Estamos lembrando a cada instante do nosso povo, dos nossos obreiros e pedimos que o Espírito Santo dê a eles a mesma paz que estamos sentido, onde quer que eles estejam!
Quinta-feira, 07 de Abril de 2011
O dia está aparentemente calmo. O toque de recolher, como sempre, é ao meio-dia. As pessoas correm procurando algo para comer e hoje as farmácias abriram. São centenas de pessoas correndo contra o tempo, há muita desorganização e a confusão está formada. Imaginamos quantas pessoas devem estar feridas e doentes sem atendimento médico, sem acesso a remédios, sem dinheiro. Penso nos hospitais… Penso nas pessoas com problemas cardíacos, como devem ter se sentido no momento dos bombardeios? A estimativa dos mortos, somente desta semana, é de 1.500 pessoas, sem mencionar os feridos!
Já estamos há uma semana sem poder ir à igreja, é revoltante! Agradecemos a Deus por estarmos com vida, termos o que comer, além de “confortos” como água e luz, pois sabemos que muitos não têm nem isso! Perseveramos em orar para que nada falte ao nosso povo e aos obreiros.
Mais um dia se acaba e vamos tentar dormir, porém, agora também temos de nos preocupar com as invasões a residências, que se tornaram rotina. Também estão sendo frequentes os casos de estupro e todo tipo de violência. A onda de pânico é constante, mas ainda assim cremos, pois se o Senhor não edificar a casa, em vão vigia a sentinela…
Sexta-feira, 08 de Abril de 2011
Amanheceu e já escutamos tiros. Alguns pastores foram ao centro da cidade e voltaram dizendo que há muitos homens armados perto de nossa casa.
Acabamos de almoçar e vou lavar a louça. Começa um tiroteio bem na nossa rua. Deitamos imediatamente no chão da cozinha e ficamos em oração até às 15 horas, quando as bombas e os tiros cessam. Uma vez mais estamos bem!
Sábado, 09 de Abril de 2011
Pela manhã alguns pastores foram novamente ao centro da cidade e voltaram com a notícia de que há seis corpos na nossa esquina, produto do tiroteio de ontem à tarde. No espaço de apenas quatro quilômetros há mais de cinco postos de controle, nos quais as pessoas à pé, e as poucas que ainda se arriscam a sair de carro, são revistadas.
Nos reunimos para ouvir uma mensagem do Bispo Macedo, mas não foi nada fácil, pois às 16h os tiros e os bombardeios recomeçaram. Ignoramos as condições e o André ia traduzindo simultaneamente para os pastores que não falam português. Fomos fortalecidos!
Mais tarde recebemos a notícia de que três casais de pastores que moram em outro bairro tiveram que deixar sua casa e fugir para igreja. Nossas orações foram exclusivamente voltadas a eles!
Já é noite e os tiros continuam. Mais uma vez estamos todos trancados em casa, orando para que possamos dormir em paz, apesar da revolta no nosso coração. Amanhã será o segundo domingo que não poderemos ir à igreja…. Os membros nos telefonam como podem, dizendo que não têm como ir à igreja amanhã. Eles também sentem falta da Casa de Deus… Os pastores decidem arriscar e ir em uma igreja mais próxima de nossa casa, há uns nove quilômetros. O plano é irem à pé, apenas dois deles e suas esposas. Os demais pastores ficarão por questão de segurança. Pelo menos, esse é o nosso plano. Só amanhã saberemos como realmente será…
Domingo, 10 de Abril de 2011
O plano dá certo! Os pastores conseguem ir à igreja e voltam em paz! Foram detidos em alguns postos de controle, mas conseguiram! Embora tenham tido êxito, o perigo esteve muito perto, pois quando o pessoal da revista vê que se tratam de missionários, ficam nervosos e dizem que nós cristãos oramos contra eles. Nossos pastores tentam explicar que oram apenas pela paz, mas de nada adianta, eles não nos vêem com bons olhos… Para facilitar a passagem nos postos, fizemos cartas nos apresentando como voluntários da ABC e daqui em diante este será o documento que usaremos para zelar por nossas vidas.
Conseguimos ter reuniões em algumas igrejas. Fico feliz com a ligação de uma obreira dizendo que alguns obreiros e membros conseguiram orar dentro da igreja que fora destruída. Digo a ela que é isso que Deus espera de nós: uma fé própria e independente. Quando temos o Espírito Santo não dependemos de pastor ou de igreja, mas temos uma fé própria. Outras pessoas também me ligam para dizer que estão bem, mas infelizmente, há um obreiro que trabalha comigo na EBI que está desaparecido… Creio que ele está bem, pois Deus é fiel!
Lá fora os estrondos continuam. É estranho, mas há tantos dias convivendo com esses sons que parecemos estar nos acostumando… Eles já não assustam tanto. Oramos às 17 horas e buscamos a força de Deus, o que não nos tem faltado. Tenho certeza de que isso tudo vai acabar e essa certeza vem do Espírito Santo!
Chove bastante. É como se o tempo também estivesse mostrando sua revolta! Ficamos sem luz durante todo o dia, mas graças a Deus a situação já está normalizada, pelo menos nesse aspecto. Oro para que amanhã possamos sair de casa. Enquanto elevo meu pensamento a Deus, nos céus, bem acima de nossas cabeças, mais helicópteros e aviões voam baixo. Só Deus pode nos guardar, pois nunca sabemos quando e onde irão bombardear ou metralhar. Avaliamos nossa situação: temos alguma comida, água e luz. Já não se ouvem bombardeios, mas reinam as invasões a residências. Nossa única proteção é Deus, e a cada dia dizemos: ”até aqui nos ajudou o Senhor!”
Beijos, continue orando por favor!
Li esse relato no site da Dn. Cristiane e tive vontade de chorar .
Oi, dona Paula! Consegui uma conexão de internet para escrever bem rapidinho. A coisa aqui ficou preta mesmo… Para ganhar tempo, pois a net é limitada, escrevi durante 2 semanas o que vivi e aqui está:
Quinta-feira, 31 de março de 2011
São 13 horas. Nosso responsável, bem como outros pastores, não conseguiu sair de casa. Os conflitos são muitos, milhares de homens armados atiram em todas as direções, cada um com suas razões, mas todos com um único objetivo: matar!
Eu, André e alguns pastores conseguimos chegar na sede em meio a tiros. Tento me concentrar no meu trabalho no escritório, acreditando que os tiros vão parar, mas penso nos vários corpos que vimos pela rua…
De repente, um estrondo faz tremer tudo! Nos jogamos no chão e lá ficamos por meia hora até os barulhos diminuírem. O Bispo liga e diz que devemos ir para casa, fechamos tudo às presas e saímos. No caminho, temos de levantar os braços para indicar que não estamos armados. As ruas estão desertas e vemos mais corpos pelo caminho. Conseguimos chegar em casa.
Naquela noite ninguém dorme, pois os estrondos são perturbadores.
Sexta-feira, 01 de Abril de 2011
Amanhece e os tiros continuam. Somos 12 casais (pastores) aqui no condomínio, estamos bem, mas nossa preocupação é com os outros pastores, com os auxiliares, com o próprio Bispo, os obreiros, o povo enfim… O que estará acontecendo? Será que estão bem? Tentamos ligar uns para os outros, mas as linhas telefônicas foram cortadas.
Começamos a orar juntos pela manhã, ao meio-dia e às 17 horas, sem falar que já estávamos em propósito de oração de seis em seis horas e nos 21 dias do Jejum de Daniel.
A noite cai e os tiros não param. As bombas explodem insistentemente. O chão treme debaixo de nós.
Sábado, 02 de Abril de 2011
Dormir é quase impossível. Não vemos a hora de amanhecer para colocarmos a cabeça para fora! Temos pouca comida em casa e decidimos ir ao centro comprar algo. Não podemos ir de carro, pois os roubos a automóveis são praticamente certos. Vamos à pé, não vamos arriscar o carro da igreja. São 8 quilômetros, ida e volta. Os tiros e as bombas continuam. Agora mais distantes, mas continuam e não há teto sobre nossas cabeças, estamos na rua. Para nossa surpresa chegamos à rua principal e damos de cara com uma multidão, todos procurando o mesmo que nós: comida.
Que confusão! Poucos lugares abertos e centenas de pessoas buscam por comida. As filas não são respeitadas. Na padaria, muita briga por um pão, na feira, alguns poucos vendedores têm um estoque baixíssimo a preços absurdos. Não temos escolha, compramos o que podemos. O medo e o desespero são grandes por parte das pessoas que brigam e se agridem por um saco de arroz… Em meio a tudo isso temos que voltar rápido para casa, o toque de recolher é ao meio-dia.
O dia está acabando e os pastores combinam de ir à igreja amanhã pela manhã.
Domingo, 03 de Abril de 2011
Ainda bem cedo, o Bispo liga e diz que devemos ficar em casa. Ele havia tentado sair e fora obrigado a se deitar no chão com uma arma apontada em sua cabeça. Assim ficou por 20 minutos, mas pela mão de Deus, o deixaram voltar para casa, porém o advertiram a não ir à igreja…
Revoltados, nos colocamos a orar, pois é inadmissível ficarmos sem ir à igreja em um domingo! Em algumas de nossas igrejas houve reuniões com 10, 17, 30 pessoas corajosas que moram perto e arriscaram suas vidas para buscar a Deus…
À tarde nos reunimos em casa e buscamos a presença de Deus. Ele, claro, se fez presente entre nós. Posso ouvir a doce voz do Espirito Santo nos consolando, nos dando força, trazendo paz ao nosso interior e uma traquilidade que só Ele pode dar. Mesmo escutando os estrondos das bombas e sentido o chão tremer, nos sentíamos em paz e segurança!
A noite cai. Tentamos dormir.
Segunda-feira, 04 de Abril de 2011
Acordamos com a notícia de que uma de nossas igrejas fora destruída! Roubaram tudo… Restaram apenas os bancos. O povo e os obreiros telefonam preocupados conosco, mas a energia é cortada e os celulares começam a descarregar. A água também é pouca e temos que economizar gás e comida, pois não sabemos quando poderemos sair novamente.
São 16 horas e percebemos vários helicópteros sobrevoando áreas próximas ao nosso condomínio. Estão muito baixos… A Embaixada do Brasil nos telefona para saber o lugar exato em que estamos e nos dizem que devemos reunir nossos documentos em um lugar seguro para que, em caso de resgate, estejamos preparados… Mas no nosso coração só há uma frase: “Não vamos a lugar algum!”
São 16h45 e estamos prontos para a oração das 17 horas. Porém, observamos um movimento estranho: um helicóptero deixa cair algo do céu a apenas alguns quilômetros de nossa casa. Não temos ideia do que se trata até que ouvimos uma explosão! Tudo estremece, é uma bomba! Agora são várias, já que outros helicópteros começam a fazer o mesmo. Corremos todos para a cozinha, nos deitamos no chão e oramos. Sinto muito medo, como jamais senti em toda minha vida. Fecho os olhos e nada me resta senão confiar em Deus… Soubemos depois que tratava-se de um bombardeio enviado pela França, para atingir quatro pontos principais: a casa do presidente, a presidência e dois campos militares, um deles localizado a apenas cinco quilômetros de nossa casa… Nosso pensamento se fixa no nosso povo, nos obreiros, nos outros pastores e nos auxiliares que estão nas igrejas. E se uma dessas bombas cair em uma igreja? Como estará o Bispo? Não há como saber…
Não há mais luz, nem linha telefônica. A noite cai uma vez mais e os estrondos não dão trégua. Agora derrubaram um helicóptero! Onde terá caído? Muitas perguntas, nenhuma resposta… Assim passamos a noite: deitados no chão da cozinha, tentando nos proteger. Não é possível dormir com aquele barulho todo. Não há como saber se seremos atingidos. Não enxergamos um palmo diante do nariz, a escuridão é medonha. Tiros, bombas, não há o que possamos fazer…
Terça-feira, 05 de abril de 2011
Adormeci finalmente. O cansaço me venceu. Acordo e percebo que ainda ouço o explodir das bombas! Ficamos felizes ao vermos uns aos outros simplesmente pelo fato de estarmos todos vivos! Glorificamos a Deus e pedimos sem cansar pelos outros!
Passamos o dia em oração, não mais três vezes ao dia, nem tão pouco de seis em seis horas, mas intensificamos nosso clamor de hora em hora. Nós, mulheres, tentamos viver um dia normal, limpando a casa, cozinhando, lendo a Bíblia, enfim. O dia passa, mas nossa vontade de poder voltar à vida normal permanece.
Quarta-feira, 06 de Abril de 2011
Dormi esta noite, graças a Deus! Temos mais um desafio hoje: nosso gás vai acabar a qualquer momento, temos que sair para comprar carvão. Vamos ao centro e encontramos uma situação ainda pior que da vez anterior. Há menos coisas para se comprar e, por incrível que pareça, ainda mais caras! Os poucos supermercados que existem foram saqueados e estão, além de destruídos, completamente vazios.
O valor que normalmente gastamos na compra para o mês todo, hoje deu apenas para comprar comida para uma semana… Voltamos exaustos. Estamos exaustos de tanto andar, exaustos de ter que lutar para conseguir comprar pouquíssimas coisas a preços exorbitantes e mais exaustos ainda, e até mesmo revoltados, ao ver a situação da população.
Depois de três dias sem luz, a energia voltou, graças a Deus! Já estávamos temendo que nossa pouca comida se estragasse. Nem água gelada temos!
Aqui não podemos acompanhar as notícias, não só por estarmos no Jejum de Daniel, mas sim porque a única emissora de TV foi bombardeada! Mesmo com pouquíssimas informações, ouvimos que fora declarado um “cessar fogo”. Parece bom.
É meio-dia e estamos reunidos para orar quando o Bispo telefona dizendo que homens armados entraram em sua casa e roubaram várias coisas, além do carro da igreja. Damos graças a Deus, pois poucos minutos antes ele havia saído para tentar comprar algo e foi, nesse exato momento, que os homens entraram encontrando sua esposa e filha. Mesmo estando apenas as duas na casa, os saqueadores não fizeram nenhum mal à elas! Reconhecemos o milagre, mas nossa revolta aumentou ainda mais!
À tarde chega a notícia de que dois morteiros foram lançados na nossa sede, destruindo parte do muro e um carro da igreja que estava estacionado. Mais uma vez Deus enviou Seu livramento, pois havia mais de 30 pessoas lá, entre esposas, pastores, auxiliares e alguns obreiros, mas ninguém sofreu um arranhão! Deus tem ouvido nossas orações!
São 17 horas e vamos buscar a presença de Deus. Participamos de uma Santa Ceia improvisada, em casa mesmo. Foi uma bênção, algo tão forte que nos fez lembrar da igreja primitiva. O Espírito Santo está aqui nos fortalecendo, dando paz, mesmo em meio e esta guerra. Estamos lembrando a cada instante do nosso povo, dos nossos obreiros e pedimos que o Espírito Santo dê a eles a mesma paz que estamos sentido, onde quer que eles estejam!
Quinta-feira, 07 de Abril de 2011
O dia está aparentemente calmo. O toque de recolher, como sempre, é ao meio-dia. As pessoas correm procurando algo para comer e hoje as farmácias abriram. São centenas de pessoas correndo contra o tempo, há muita desorganização e a confusão está formada. Imaginamos quantas pessoas devem estar feridas e doentes sem atendimento médico, sem acesso a remédios, sem dinheiro. Penso nos hospitais… Penso nas pessoas com problemas cardíacos, como devem ter se sentido no momento dos bombardeios? A estimativa dos mortos, somente desta semana, é de 1.500 pessoas, sem mencionar os feridos!
Já estamos há uma semana sem poder ir à igreja, é revoltante! Agradecemos a Deus por estarmos com vida, termos o que comer, além de “confortos” como água e luz, pois sabemos que muitos não têm nem isso! Perseveramos em orar para que nada falte ao nosso povo e aos obreiros.
Mais um dia se acaba e vamos tentar dormir, porém, agora também temos de nos preocupar com as invasões a residências, que se tornaram rotina. Também estão sendo frequentes os casos de estupro e todo tipo de violência. A onda de pânico é constante, mas ainda assim cremos, pois se o Senhor não edificar a casa, em vão vigia a sentinela…
Sexta-feira, 08 de Abril de 2011
Amanheceu e já escutamos tiros. Alguns pastores foram ao centro da cidade e voltaram dizendo que há muitos homens armados perto de nossa casa.
Acabamos de almoçar e vou lavar a louça. Começa um tiroteio bem na nossa rua. Deitamos imediatamente no chão da cozinha e ficamos em oração até às 15 horas, quando as bombas e os tiros cessam. Uma vez mais estamos bem!
Sábado, 09 de Abril de 2011
Pela manhã alguns pastores foram novamente ao centro da cidade e voltaram com a notícia de que há seis corpos na nossa esquina, produto do tiroteio de ontem à tarde. No espaço de apenas quatro quilômetros há mais de cinco postos de controle, nos quais as pessoas à pé, e as poucas que ainda se arriscam a sair de carro, são revistadas.
Nos reunimos para ouvir uma mensagem do Bispo Macedo, mas não foi nada fácil, pois às 16h os tiros e os bombardeios recomeçaram. Ignoramos as condições e o André ia traduzindo simultaneamente para os pastores que não falam português. Fomos fortalecidos!
Mais tarde recebemos a notícia de que três casais de pastores que moram em outro bairro tiveram que deixar sua casa e fugir para igreja. Nossas orações foram exclusivamente voltadas a eles!
Já é noite e os tiros continuam. Mais uma vez estamos todos trancados em casa, orando para que possamos dormir em paz, apesar da revolta no nosso coração. Amanhã será o segundo domingo que não poderemos ir à igreja…. Os membros nos telefonam como podem, dizendo que não têm como ir à igreja amanhã. Eles também sentem falta da Casa de Deus… Os pastores decidem arriscar e ir em uma igreja mais próxima de nossa casa, há uns nove quilômetros. O plano é irem à pé, apenas dois deles e suas esposas. Os demais pastores ficarão por questão de segurança. Pelo menos, esse é o nosso plano. Só amanhã saberemos como realmente será…
Domingo, 10 de Abril de 2011
O plano dá certo! Os pastores conseguem ir à igreja e voltam em paz! Foram detidos em alguns postos de controle, mas conseguiram! Embora tenham tido êxito, o perigo esteve muito perto, pois quando o pessoal da revista vê que se tratam de missionários, ficam nervosos e dizem que nós cristãos oramos contra eles. Nossos pastores tentam explicar que oram apenas pela paz, mas de nada adianta, eles não nos vêem com bons olhos… Para facilitar a passagem nos postos, fizemos cartas nos apresentando como voluntários da ABC e daqui em diante este será o documento que usaremos para zelar por nossas vidas.
Conseguimos ter reuniões em algumas igrejas. Fico feliz com a ligação de uma obreira dizendo que alguns obreiros e membros conseguiram orar dentro da igreja que fora destruída. Digo a ela que é isso que Deus espera de nós: uma fé própria e independente. Quando temos o Espírito Santo não dependemos de pastor ou de igreja, mas temos uma fé própria. Outras pessoas também me ligam para dizer que estão bem, mas infelizmente, há um obreiro que trabalha comigo na EBI que está desaparecido… Creio que ele está bem, pois Deus é fiel!
Lá fora os estrondos continuam. É estranho, mas há tantos dias convivendo com esses sons que parecemos estar nos acostumando… Eles já não assustam tanto. Oramos às 17 horas e buscamos a força de Deus, o que não nos tem faltado. Tenho certeza de que isso tudo vai acabar e essa certeza vem do Espírito Santo!
Chove bastante. É como se o tempo também estivesse mostrando sua revolta! Ficamos sem luz durante todo o dia, mas graças a Deus a situação já está normalizada, pelo menos nesse aspecto. Oro para que amanhã possamos sair de casa. Enquanto elevo meu pensamento a Deus, nos céus, bem acima de nossas cabeças, mais helicópteros e aviões voam baixo. Só Deus pode nos guardar, pois nunca sabemos quando e onde irão bombardear ou metralhar. Avaliamos nossa situação: temos alguma comida, água e luz. Já não se ouvem bombardeios, mas reinam as invasões a residências. Nossa única proteção é Deus, e a cada dia dizemos: ”até aqui nos ajudou o Senhor!”
Beijos, continue orando por favor!
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